Sair
de Barra do Garças para uma viagem longa, me lembra casa. Me lembra pegar
estrada levando na mala vontade de abraço e cafuné na rede dado pelos dedos
enrugados de minha mãe. Mas dessa vez não tem Bahia, não tem praia, não tem cafuné.
Tem estrada e tem buracos também (e como tem), dessa vez a rota é outra,
não que não seja boa, conhecerei o Xingu.
O
Vale do Araguaia é imenso, Barra é só um pedacinho dele. Ainda tem muita
estrada e casais de araras aí pra riba,
nos grotões do Mato Grosso. Parada rápida em Ribeirão Cascalheiras, uma avenida
larga e única. Única no sentido de ser a
única, o comércio se espreme nas laterais dessa única
avenida, que é única.
Mais
adiante, muito distante, pouso em Vila Rica, cidade bonita, com praça sem banco
e pipoca de R$ 1,50. Mas se levar duas sai por R$ 2,50. Barzinho lotado. (Deve
ser o point da cidade). Dito e certo, tá todo mundo aqui de prefeito à
delegado.
A água
é salobra, mas no calor, é a que tem. “Bebe e vamos embora”.
Mais
sertanejo de raiz tocando no rádio. Lama e poeira se alternam, elas não sabem o que querem. Ora
uma comanda, e lá vem o caminhão arrastando o túnel de poeira na nossa frente. Ora
é a vez da lama feita da chuva que ninguém viu chover, sujar o para brisa, a porta,
a roda e a janela.
Chegamos
em Santa Terezinha, Comida gostosa e cara. Imagina na temporada?!
Índios Tapirapés na rua e o Araguaia bem ali do lado anuncia que jajá tem pôr do sol.
Parada na escola da Torre, fotos. No mercadinho, o picolé à vista custa um real, à
prazo é 1,50. Aceita conselho menino, honre tuas dívidas desde pequeno, compre à vista e saboreie cinquenta centavos a mais no seu bolso.
Acabou
o asfalto, a placa já tinha avisado “fim do asfalto à 200m”. E pela frente vem mais poeira e
lama brigando. Bem vindo à São José do Xingu, capital do boi gordo!
Não
sem antes um suspense na ponte de madeira. Mede a roda, será que passa? Tem que passar! Um
pneu em cada tábua e vamos lá! São José nos recebe assim, o menino bem educado do restaurante avisa: "Não temos cardápio, mas decorei tudo: Temos x salada, x bacon e x tudo, porções, sorvetes
e caldos. Feito o pedido, mais alguma coisa senhor? Não, só o banheiro por favor!
Ali?
Naquele buraco no chão? Sim senhora, bem ai!
Fico de cócoras para urinar, pelo menos a vez no buraco não é paga como nas rodoviárias, bem, pelo menos não explicitamente. Nas ruas largas e ainda sem asfalto, vejo bicicletas por todos os lados. O lugar é bucólico, mas vejo poesia nisso tudo, assim como vejo as fazendas de um verde cor de dólar que estão por todos os lados. Para comprar, só se for à vista. No prazo só
o picolé que ficou em Santa Terezinha.
Na
volta, mais pontes de madeiras em uma delas outra pausa. Dessa vez, pra alimentar os peixes com o bolo de arroz azedado comprado a boleira de Santa Terezinha. A viagem tá boa, mas aquela sensação de "quero chegar" logo começa a invadir, de dentro pra fora.