sábado, 24 de maio de 2014

Sem chocolate e sem som.

Eram cinco e meia da manhã, fazia um friozinho bom de toda madrugada de outono. E de repente... Ta lá... Dessa vez, foi uma moça. Magra, pele clara, aparenta ter seus vinte e dois anos de idade. A sua moto rosa, está aos frangalhos jogada no acostamento.

Seu plano era chegar em casa, ligar para o namorado e avisar que chegou bem, abrir a geladeira comer o chocolate que ficou da páscoa, tomar um banho, ligar o som e  dormir. Porém, antes que  tudo isso pudesse acontecer, encontrou com o carro prata.

A ligação para o namorado foi feita, afinal era o último número registrado no seu celular. A essa altura já chegavam os urubus em forma de gente querendo saber o que tinha acontecido. A polícia mandava sair, mas ninguém era besta de sair e “perder” toda a adrenalina.

Do carro prata, todo mundo saiu de pé, primeiro um rapaz meio gordo, meio alto e meio tonto. Ele trocava as pernas, devia está assim por conta da pancada. Depois saíram três moças, todas muito animadas, até sorriam, o que era esquisito já que tinham  acabado de sofrer um acidente.

A mãe da moça chegou. Cabelo preso em um coque, blusão de pijama e calça jeans, sandália de dedo no pé e aflição no rosto. Quando viu sua filha desacordada pediu um muro para se apoiar, recebeu um abraço. Era o namorado da filha.


O rapaz meio gordo era o dono do carro algoz, ele ainda estava meio tonto e se recusou a fazer o teste do bafômetro. Disse que era gente importante, que eles ainda iam ter que pagar uma rodada de uísque 12 anos por ter atrapalhado sua festa.  O policial pegou a chave e a habilitação do tão importante rapaz, mas logo devolveu. Acho que alguma coisa "molhou" a mão dele, porque ele enxugou apressadamente com o tecido do bolso da calça.

Acho que isso foi suficiente para o policial dar um jeito de afastar a multidão, o máximo que fez foi dar um calmante para a senhora de pijama e coque que chorava no ombro do genro a perda que acabara de sofrer.
E as pessoas começaram a se dispersar, o trânsito voltou a andar. O carro prata, que ninguém anotou a placa, e cheio de gente importante já tinha ido embora, depois da liberação, a moto rosa não estava mais no acostamento, só ficaram os minúsculos caquinhos de vidro denunciando o ocorrido.


O dia amanheceu, a moça que se chamava Fernanda, não chegou em casa, não ligou para o namorado, não comeu o chocolate e nem ligou o som. Também não dormiu. Morreu. E entrou para estatística do Brasil.