Quando
escrevi a minha primeira oficial matéria jornalística, sobre a poeira do bairro
Piracema senti uma comichão por dentro. A pauta não tinha. O que veio foi uma
ligação de um morador, indignado com a poeira que assolava o pulmão dos que tinham
como vizinho o posto fiscal e toda poeira levantada pelos caminhões que passam
por ali o tempo inteiro. Corremos até ele. E lá, na última casa da rua, de fronte
ao seu pé de carambola estava Antônio Furquim,
ou Melancia, como tratou logo de informar que era seu mais conhecido nome.
Usava
roupas que um dia foram sociais, camisa de botão e calça preta de brim batido.
Nos pés, sandálias de dedo e poeira.
Seu
melancia nos contou o drama vivido diariamente e como um repórter afoito, saiu
perguntando à todos o que achavam da poeira. O engraçado é que ele, mesmo sendo
mecânico sabia que quanto mais pessoas falam mais “real” a estória parece. Não
que a estória da poeira fosse uma mentira que precisava ser repetida. Mas se
fosse repetida, mais pessoas acreditariam. Era essa a lógica.
Entrevistei,
seu Geraldo, dona Maria e o caminhoneiro Xavier. Todos tinham algo a falar
sobre a poeira, dona Maria já estava até muito “retada” como diria na minha
terra, falava com força nas palavras que nada mudaria depois do nosso diálogo,
como nunca mudou.
Ela
estava assim, por que mesmo com o abaixo assinado com mais 200 assinaturas nada
se sucedeu a respeito da poeira, que continua entrando na venda, nos sapatos,
na comida e nas vias respiratórias de quem precisa estar ali todos os dias.
Os
pés de tody de seu melancia ficam à mostra para qualquer um que chegue veja
como é ruim andar e morar por onde a vegetação esqueceu que nasceu verde e se
camufla involuntariamente de marrom. Do seu pé de carambola ele pergunta se
aceito algumas, e garante que é da doce.
Eu
aceito, afinal aquela frutinha em formato de estrela me traz boas lembranças. De
quando eu fazia o geladinho e ia vender na praia, vendia pelo exótico, afinal
quem já viu geladinho de carambola?. Eu já vi e já vendi! E agora estava lembrando
disso ali, no empoeirado pé de carambola do melancia.
Ele
começou a tirar os frutos e a poeira vinha junto, encrustada na pele amarela,
mas não pálida da carambola. Via-se também ela por todos os lados refletindo a
luz do sol que já ia se pondo, era bonito admito mas me fez tossir um pouco.
Receber
as carambolas do melancia agradecido por
termos ido até lá fazer a reportagem, era diferente de receber um “jabá” jornalístico
desse que sempre aprendemos a recusar. Era mais como uma recompensa por ter
feito uma coisa boa, não sei se altruísmo porque afinal de contas, no fim do mês
recebo um salário, mas valeu a pena no meu currículo de repórter. Acho que no
fundo é essa satisfação que faz os monte de jornalistas seguirem em frente na
profissão.