quarta-feira, 4 de junho de 2014

Envelhecer. Um velho ser


Envelhecer é um verbo  do futuro, mas que um dia se torna presente e faz quem chega à essa idade, viver de passado. O envelhecimento é a colheita, a paga, o que fica, de tudo aquilo que vivemos. Quando a idade chega, ou melhor, quando ela vai embora, a reflexão rodeia, tudo vira pergunta. O que você plantou? quanto você trabalhou? o que você guardou? 

O envelhecimento é a penúltima etapa do ciclo da vida, mas isso não significa que não seja boa. É importante, por mais que dolorosa. Às vezes o corpo está velho, debilitado, mas a mente está a todo vapor, isso é o mais triste.

Aceitar que se está velho, abrir mão da liberdade de poder ir ao banheiro sozinho, pegar o garfo com as próprias mãos, escolher que roupa vestir e  tantas outras coisas que antes podíamos fazer até de olhos fechados.



Quando encontrei esta senhora, nas ruas de Goiás Velho senti algo muito especial e íntimo.
O desejo de liberdade dela engaiolado em seus olhos tristes e em seu corpo já antigo me fizeram perceber o quanto a vida é passageira e a mocidade é breve. 

Peles esticadas duram pouco, beleza menos ainda, os dentes caem, a pele fica flácida, os movimentos diminuem, os reflexos se tornam quase nulos. Só o que permanece igual, são as batidas do coração.
O dessa senhora desejava ardentemente voar, mas uma voz que vinha lá de dentro dizia: "não, você não pode, não tem mais idade para isso.

Ela só queria caminhar! Afinal ainda está viva, e a vida ainda existe dentro dela.Mas ali não estava em jogo, quem ela tinha sido em sua juventude, o que ela tinha conquistado na vida, quais riquezas ela possuía, para ela ali, nada disso importava mais. O que importava e o que ela pedia era simplesmente uma voltinha pelo quarteirão, nada mais que isso,  essa era a riqueza que ela gostaria de possuir.

Nunca me esquecerei desse corpo jaula debruçado em uma janela do Goiás, e nem era o de bronze em tamanho real  da famosa poeta Cora que fica quase na mesma rua. Era um corpo vivo com um par de olhos tristes e denunciadores da solidão de alma, olhos que me permitiram uma foto como lembrança, para que eu nunca esqueça como é viver com a cabeça sã em um corpo limitado e com o coração solitário.





Protestando, amando. Ando..ando..

Hoje acordei e resolvi que tinha que protestar também. Afinal, tá todo mundo protestando, tá todo mundo na rua. Quero dar minha parcela de reivindicações. Pois acordei, tomei meu café quentinho, passei um batom bem vermelho na boca larga que Deus me deu e fui pra rua. Protestei contra a tristeza que se instalou no vizinho, ele está sempre sentado em sua cadeira de fio mas nunca responde meus bons dias.


Eu nunca desisto, penso assim:  Se eu insistir muito quem sabe um dia ele responde. E com essa mesma boca vermelha espalhei cartazes de sorriso por aí, panfletei gentileza pra Maria pra Lúcia e pro Joaquim. Sei que esse protesto não vai mudar o que está errado de uma hora para outra, mais é dentro de cada um que começa a mudança. No caminho fui com minha bicicleta, reclamei para as flores do jardim do alto preço da passagem para pasárgada. No último mês foi um aumento de quase 100%.  Achei um absurdo, só sendo mesmo amigo do rei para pagar tão caro.



Quando voltava desse protesto ímpar, encontrei com um bloqueio na ponte e me juntei à eles. Mas eu gritava em uníssono, CHEGA DE BLOQUEIO DE CORAÇÕES!! ESSA LUTA É POR MENTES MAIS DESBLOQUEADAS! Tenho certeza que ninguém escutou a minha manifestação de uma pessoa só, Mas voltei pra casa feliz por ter feito minha parte, quem sabe as coisas não começam a mudar amanhã? Se não mudarem, me visto de novo com o batom vermelho e torno a dar bom dia pro vizinho.