Envelhecer é um verbo do futuro, mas que um
dia se torna presente e faz quem chega à essa idade, viver de passado. O envelhecimento
é a colheita, a paga, o que fica, de tudo aquilo que vivemos. Quando a idade chega, ou
melhor, quando ela vai embora, a reflexão rodeia, tudo vira pergunta. O que você plantou? quanto
você trabalhou? o que você guardou?
O envelhecimento é a penúltima etapa do ciclo da vida,
mas isso não significa que não seja boa. É importante, por mais que dolorosa. Às vezes o corpo está velho, debilitado, mas a
mente está a todo vapor, isso é o mais triste.
Aceitar que se está velho, abrir mão da liberdade de poder ir ao banheiro sozinho, pegar o garfo com as próprias mãos, escolher que roupa vestir e tantas outras coisas que antes podíamos fazer até de olhos fechados.
Aceitar que se está velho, abrir mão da liberdade de poder ir ao banheiro sozinho, pegar o garfo com as próprias mãos, escolher que roupa vestir e tantas outras coisas que antes podíamos fazer até de olhos fechados.
Quando encontrei esta senhora, nas ruas de Goiás
Velho senti algo muito especial e íntimo.
O desejo de liberdade dela engaiolado em seus olhos
tristes e em seu corpo já antigo me fizeram perceber o quanto a vida é
passageira e a mocidade é breve.
Peles esticadas duram pouco, beleza menos ainda, os
dentes caem, a pele fica flácida, os movimentos diminuem, os reflexos se tornam
quase nulos. Só o que permanece igual, são as batidas do coração.
O dessa senhora desejava ardentemente voar, mas uma
voz que vinha lá de dentro dizia: "não, você não pode, não tem mais
idade para isso.”
Ela só queria caminhar! Afinal ainda está
viva, e a vida ainda existe dentro dela.Mas ali não estava em jogo, quem ela tinha sido em sua
juventude, o que ela tinha conquistado na vida, quais riquezas ela possuía,
para ela ali, nada disso importava mais. O que
importava e o que ela pedia era simplesmente uma voltinha pelo quarteirão, nada mais que isso, essa
era a riqueza que ela gostaria de possuir.
Nunca me esquecerei desse corpo jaula debruçado em uma janela do Goiás, e nem era o de bronze em tamanho real da famosa poeta Cora que fica quase na mesma rua. Era um corpo vivo com um par de olhos tristes e denunciadores da solidão de alma, olhos que me permitiram uma foto como lembrança, para que eu nunca esqueça como é viver com a cabeça sã em um corpo limitado e com o coração solitário.
Nunca me esquecerei desse corpo jaula debruçado em uma janela do Goiás, e nem era o de bronze em tamanho real da famosa poeta Cora que fica quase na mesma rua. Era um corpo vivo com um par de olhos tristes e denunciadores da solidão de alma, olhos que me permitiram uma foto como lembrança, para que eu nunca esqueça como é viver com a cabeça sã em um corpo limitado e com o coração solitário.